Dentre todos os livros que ganhei de presente na vida (pelas mais diversas ocasiões), encontra-se na minha estante A garota das laranjas, dado pela minha namorada no começo do nosso relacionamento. Por conta própria, eu digo que seria bem difícil ir atrás desse livro, mas, depois que o li, tenho de agradecer pela oportunidade de ele ter vindo parar nas minhas mãos.
A Garota das Laranjas, (Appelsinpiken, 2005) foi escrito por um dos mais populares autores contemporâneos: estamos falando de Jostein Gaarder, filósofo norueguês conhecidíssimo por seu célebre O Mundo de Sofia, que lhe deu projeção internacional como romancista no começo dos anos 1990.
Extremamente cativante. Essa talvez seja a expressão mais adequada para que eu possa me referir a este livro tão simples e, por isso mesmo, tão gostoso. Gaarder acertou a mão quando escreveu A Garota das Laranjas, conseguindo, logo nas primeiras páginas, captar a atenção do leitor da maneira mais agradável possível – inclusive ao falar de assuntos relativamente delicados, como morte e o vazio que um marido deixa atrás de si, mesmo quando ele é substituído por outro homem.
A confrontação com a morte, aliás, é um dos temas mais presentes no livro. Isso para não dizer que ele está manifesto praticamente desde a primeira até a última página; afinal de contas, quem escreve a maior parte da história é um pai que está à beira da morte e sabe disso. Por essa razão, ao dirigir-se ao filho maduro com quem nunca pôde conversar, o pai procura incutir-lhe divagações filosóficas que dizem respeito à condição do Homem no mundo.
Mas o objetivo geral da carta que o pai escreve a seu filho Georg não é, necessariamente, apenas de cunho filosófico. O que Jan Olav de fato deseja é contar ao seu herdeiro a sua relação de adolescente com a "garota das laranjas", lá pela ida década de 1970. E eu diria que é nesse relato da história de amor entre Olav e a garota das laranjas que o livro mais cativa. O que me agradou bastante foi ler, sobretudo, uma história de amor sem exageros, perfeitamente convincente, mas que nem por isso deixa de ser bonita, reflexiva, singela e calorosa.
Muitas pessoas julgam erroneamente A Garota das Laranjas pela capa, e ela de fato faz crer que o livro seja infantil, ou, no mínimo, muito infanto-juvenil. Tudo bem, a história diverte leitores de todas as idades, mas, como eu disse em um tópico de discussão do Orkut, a ingenuidade e a inocência do livro são apenas aparentes. Ele é recheado de sugestões que ficam soltas no ar, e que de certo modo são interpretadas de uma maneira peculiar por aqueles leitores não tão novos.
Me sinto inclinado a dizer que este é um romance muito maduro, muito "adulto", de certa forma. Existem certas coisas nas entrelinhas (certas reflexões, certos detalhes) que escapam a um olhar menos preparado e – vamos dizer assim – menos treinado pelo tempo. De qualquer forma, essa temática de entrelinhas foi uma das coisas que mais me fizeram gostar do livro; garante, acima de tudo, que Gaarder se dirige de diferentes formas a leitores de diferentes idades.
Com o estilo característico de Jostein Gaarder, leve e fluido, a história traz um charme irresistível. Estamos diante de um "conto de fadas moderno", plausível, sem apelos fantasiosos.
Por fim, resta dizer que A Garota das Laranjas superou fácil O Mundo de Sofia, que era o único livro de Gaarder que eu havia lido até então. Não que o livro mais famoso do autor seja ruim ou vazio, longe disso. Apenas não me cativou tanto quanto o que li nesse feriado. O Mundo de Sofia me pareceu algo muito didático, uma obra que está mais para manual do que para romance propriamente dito. Não é à toa que o livro será usado como "apostila de estudo" em algumas escolas do Brasil, com o advento da disciplina Filosofia na grade curricular.
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