Algumas obras de arte você conhece e gosta, seja por encanto inicial ou por afinidade. Mas, por algum motivo, não procura saber nada sobre o autor do trabalho artístico em questão, nem mesmo o nome. Foi o que aconteceu comigo e com Gustav Klimt. Ainda não me recordo ao certo o lugar em que vi "O Beijo" (Der Kuss, 1907/1908) , a pintura mais famosa do pintor, mas sei que ainda me provoca algum tipo de sensação sem nome, mas, se você precisa de alguma palavra para classificar obras, sugiro esta: suave.
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O Beijo (Der Kuss, 1907/1908) |
Poderia ter usado deslumbrante, magnífica, mágica ou qualquer outro adjetivo usado para mostrar algum tipo de fascínio, mas escolhi "suave", expressão que ousaria empregar em todas as pinturas e desenhos do artista austro-húngaro. É fácil explicar minha escolha a partir do trabalho do autor. A pintura de Klimt constitui a combinação entre o concreto e figurado, com personagens reais em um campo ilusório (ou nem tanto), em que o erotismo é o mais perto que se pode chegar do paraíso. A suavidade do vienense tem a ver com a pele e com as sensações decorrentes do prazer sexual, tema latente em seus desenhos.
Em
"O beijo", Klimt pensou em sua própria amante, Emilie, como musa
inspiradora. Na obra, Emilie aparece submissa, não ao homem, mas ao desejo. Essa também pode ser uma das características mais comuns nos trabalhos de Klimt, a exaltação da mulher. Raramente o artista pintava homens, e, quando pintava, o rosto dele não importava, mas o dela, a demonstração do êxtase feminino. "O Beijo" também se consolidou como a obra máxima da fase dourada do artista, em que o realismo e a abstração se esbarram no dourado e prateado caleidoscópicos. A obra ainda se tornou o simbolo da "Secessão Vienense", movimento liderado por Gustav para romper com o tradicional.
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Goldfish (1902) |
Como qualquer um que se atreva a desafiar o senso comum, Klimt foi muito criticado, inclusive por seus professores. Mas, o berço de toda inovação e abrigo para novos artistas, Paris o recebeu de braços abertos. Sua pintura, "A filosofia" foi repudiada por 87 professores de sua universidade, mas, no mesmo ano, a obra recebeu uma medalha de ouro na Exposição Universal da cidade luz. Um dos pontos interessantes da obra de Klimt, que também tem a ver com a tal suavidade já comentada, é que suas pinturas e desenhos parecem retratos de uma vida debaixo d'água, o que também enaltece a natureza do prazer sexual feminino. Já diria Arnaldo Antunes: "Debaixo dágua tudo era mais bonito, mais azul, mais colorido". O quadro Goldfish, (dir.) exemplifica essa minha impressão. Esse mágico dourado dá lugar para uma melancolia, em 1912, quando Klimt esconde a cor original do quadro "A Vida e a Morte, substituindo por tons mais tristes. O artista parecia, de alguma forma, prever a morte de sua mãe três anos mais tarde e também o seu próprio óbito, em 1918.
Veja abaixo algumas das principais obras de Gustav Klimt