Depois de mais ou menos três anos de espera, desde o lançamento de Get Lucky (2009), finalmente os brasileiros podem colocar as mãos no mais recente álbum solo do músico britânico Mark Knopfler: Privateering (2012), um disco duplo que totaliza 20 canções embaladas pelo gênero folk blues, tão apreciado por Knopfler. Fã incondicional do ex-líder da extinta banda Dire Straits, eu sempre acompanhei com entusiasmo as produções individuais de Mark – e posso dizer, com segurança, que nunca tive uma decepção real com aquilo que ele já compôs em todos esses longos anos.
Mistura equilibrada de country e folk blues, com uma leve e persistente presença do rock clássico, utilizando-se de instrumentos como sanfona, banjo e violino, Privateering é – assim como o disco anterior, Get Lucky – uma prova consistente e indiscutível da maturidade artística de Knopfler. Maturidade esta que, na verdade, ele sempre pareceu possuir, desde o distante trabalho em Golden Heart (1996), seu primeiro disco solo, em que já estavam presentes o bom ritmo, as letras com qualidade, a "ousadia comportada" característica do músico e a voz com timbre grave e sorumbático.
Mark já lançou sete discos solo até o momento. Com Privateering, ele dá algumas mostras de como anda sua tendência atual: uma simpatia pelo som norte-americano aliada à paixão pelas origens celtas. Essa união singular produz músicas belíssimas, como a balada "Kingdom of Gold" e a nostálgica "Haul Away". A faixa-título, "Privateering", é sem dúvida uma das melhores do álbum, e posso dizer que ela já era a minha preferida mesmo nas versões ao vivo que Mark Knopfler reproduziu nas suas últimas turnês.
Get Lucky (2009) e Golden Heart (1996): álbuns com a maturidade sempre notável de Mark Knopfler
Ouvintes de Dire Straits podem estranhar o som de um álbum como Get Lucky, por exemplo, ou de Privateering, dada a enorme diferença entre o ritmo pop da antiga banda inglesa e a profundidade mais arqueológica do trabalho solo de seu ex-líder. Ao lado de grandes hits como "Sultans of Swing" e "Money for Nothing", faixas tais como "Redbud Tree" ou "Dream of the Drowned Submariner" podem soar monótonas, enfadonhas ou incompreensíveis. No entanto, bem feitas as contas, já na condição de guitarrista dos Straits, Mark Knopfler plantou sementes que mais tarde, em sua carreira solo, floresceriam. Essas sementes, vejo agora, eram músicas como as saudosas "Why Worry", "Ride Across the River" e "Lions", dentre outras.
Aos fãs de Knopfler, resta então se deleitar com este novo álbum, original, eclético, profundo e agradável aos ouvidos… e esperar pelo próximo trabalho deste músico que, apesar dos passeios que já fez pelos mais diferentes ritmos e solos, nunca decepcionou aqueles que cativou desde os anos 1980.
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Privateering (2012) – Playlist
CD I
- Redbud Tree
- Haul Away
- Don’t Forget Your Hat
- Privateering
- Miss You Blues
- Corned Beef City
- Go, Love
- Hot or What
- Yon Two Crows
- Seattle
- Kingdom of Gold
- Got to Have Something
- Radio City Serenade
- I Used to Could
- Gator Blood
- Bluebird
- Dream of the Drowned Submariner
- Blood and Water
- Today is Okay
- After the Beanstalk