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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Para além da zona de conforto

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Em uma terça-feira quente e ensolarada, meu professor de Psicologia Social II resolveu passar para os seus alunos uma exibição do filme Na Natureza Selvagem, dirigido por Sean Penn e estrelado pelo talentoso Emile Hirsch.

O filme conta a história verídica de Christopher Johnson McCandless, jovem americano de família rica que abandona toda a sua vida burguesa de conforto para partir rumo ao Alasca, numa aventura que envolve provação e auto-descobrimento. Ao longo do caminho, ele encontrou várias pessoas dispostas a ajudá-lo, seja dando carona através dos Estados Unidos, seja oferecendo emprego ou abrigo. Ronald Franz foi uma dessas pessoas amigáveis: um velhinho solitário de 70 e poucos anos, que se afeiçoou muito a Chris logo no momento em que o viu.

Além de ter uma história muito interessante e instigante, o filme em si é visualmente lindo, e talvez tenha sido por esse motivo que já o assisti 8 vezes: adoro a fotografia de Eric Gautier.

A idéia deste post é mostrar a carta mais famosa que Chris escreveu a Ron, carta esta que está publicada no livro Na natureza selvagem, de Jon Krakauer. Acho que vale a pena lê-la. É impossível não se identificar com as palavras de McCandless, porque, no fundo, elas desvelam aquele sentimento que muitas vezes possuímos e nutrimos, que é o de mandar tudo às favas e viver a vida plenamente, usufruindo dos menores detalhes que a relação do Homem com a Natureza pode proporcionar.

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Ei-la:

"(…)

Ron, eu realmente gostei de toda a ajuda que você me deu e do tempo que passamos juntos. Espero que não fique muito deprimido com nossa separação. Pode levar um bom tempo até que a gente se veja de novo. Mas desde que eu saia inteiro desse negócio do Alasca você terá notícias minhas no futuro. Gostaria de repetir o conselho que lhe dei antes: acho que você deveria realmente promover uma mudança radical em seu esti­lo de vida e começar a fazer corajosamente coisas em que talvez nunca tenha pensado, ou que fosse hesitante demais para tentar.

Tanta gente vive em circunstâncias infelizes e, contudo, não toma a iniciativa de mudar sua situação porque está condicionada a uma vida de segurança, conformismo e conservadorismo, tudo isso que parece dar paz de espíri­to, mas na realidade nada é mais maléfico para o espírito aventureiro do homem que um futuro seguro. A coisa mais essencial do espírito vivo de um homem é sua paixão pela aventura. A alegria da vida vem de nossos encontros com novas experiências e, portanto, não há alegria maior que ter um horizonte sempre cambiante, cada dia com um novo e diferente Sol.

Se você quer mais de sua vida, Ron, deve abandonar sua tendência à segurança monótona e adotar um estilo de vida confuso que, de início, vai parecer maluco para você. Mas depois que se acostumar a tal vida verá seu sentido pleno e sua beleza incrível.

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Em resumo, Ron, saia de Salton City e caia na estrada. Garanto que ficará muito contente em fazer isso. Mas temo que você ignore meu conselho. Você acha que eu sou teimoso, mas você é ainda mais teimoso do que eu. Você tinha uma chance mara­vilhosa quando voltou da visita a uma das maiores vistas da Terra, o Grand Canyon, algo que todo americano deveria apreciar pelo menos uma vez na vida. Mas, por alguma razão incompreensível para mim, você só que­ria voltar correndo para casa, direto para a mesma situação que vê dia após dia. Temo que você seguirá essa mesma tendência no futu­ro e assim deixará de descobrir todas as coisas maravilhosas que Deus colocou em torno de nós para descobrir.

Não se acomode nem fique sen­tado em um único lugar. Mova-se, seja nômade, faça de cada dia um novo horizonte. Você ainda vai viver muito tempo, Ron, e será uma vergonha se não aproveitar a oportunidade para revolucionar sua vida e entrar num reino inteiramente novo de experiências.

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Você está errado se acha que a alegria emana somente ou principal­mente das relações humanas. Deus a distribuiu em toda a nossa volta. Está em tudo e em qualquer coisa que possamos experimentar. Só temos de ter a coragem de dar as costas para nosso estilo de vida habitual e nos comprometer com um modo de viver não convencional.

O que quero dizer é que você não precisa de mim ou de qualquer outra pessoa em volta para pôr esse novo tipo de luz em sua vida. Ele está sim­plesmente esperando que você o pegue e tudo que tem a fazer é estender os braços. A única pessoa com quem você está lutando é você mesmo e sua teimosia em não entrar em novas situações.

(…)

Você verá coisas e conhecerá pessoas e há muito a aprender com elas. Deve fazer isso no estilo econômico, sem motéis, cozinhando sua comida como regra geral, gastando o menos que puder e vai gostar imensamen­te disso. Espero que na próxima vez que o encontrar você seja um homem novo, com uma grande quantidade de novas aventuras e experiências na bagagem. Não hesite nem se permita dar desculpas. Simplesmente saia e faça isso. Simplesmente saia e faça isso. Você ficará muito, muito con­tente por ter feito."

3 comentários to “ Para além da zona de conforto ”

  • 24 de fevereiro de 2012 às 09:53

    Vááários amigos já me recomendaram esse filme! Depois de ler essa carta, fiquei com mais vontade ainda de ver =) O livro vale a pena também?

  • 25 de fevereiro de 2012 às 19:31

    Eu também não vi ainda! Muitos amigos me recomendaram, um até fez uma cópia pra mim.. Acho que agora não tenho mais desculpas pra enrolar rs

  • 26 de fevereiro de 2012 às 21:04

    Lays e Gabriela, vale a pena ver o filme e ler o livro, sim! O livro é, digamos, menos "artístico" que o filme (porque se trata de jornalismo investigativo), mas, se o filme despertar em você o interesse pela história de McCandless, a leitura do livro se torna inevitável. :)

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