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sábado, 31 de março de 2012

Os sapatos criativos de Kobi Levi

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Design ou Moda, Moda ou Design? Ficou essa questão na hora de escolher em qual marcador colocar esse texto, portanto, escolhi os dois. O israelense Kobi Levi e as ideias inovadoras de seus calçados não me deram outra alternativa a não ser esta. Levi cria seus sapatos a partir de uma abordagem lúdica. As peças mais parecem esculturas ou adereços decorativos do que sapatos. Alguns pares, provavelmente, foram pensados mais por humor do que por uma visão mais fashion dos calçados. Sendo assim, se algum dia você pensou em calçar cascas de banana, estilingues, ou ainda chicletes, os sapatos de Levi são ideias para os seus pés.

Tomando emprestadas suas próprias palavras, para ele, em sua concepção artística do que é um calçado, "o sapato é uma tela". Formado pela Academia Bezalel de Arte e Design, em Jerusalém, Levi explica que cria seus sapatos assim que uma ideia ou um conceito surge em mente. Na cabeça do israelense, é preciso sair do lugar comum e buscar inspirações no cotidiano. Ele espera criar uma revolução mundo dos sapatos aplicando nas peças uma transformação radical. Então, será que você usaria algum desses?








Clique aqui para ver mais imagens dos sapatos de Kobi Levi

sábado, 24 de março de 2012

Graphic novel: Fantasmópolis, de Doug TenNapel

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Hoje aconteceu uma coisa inédita: li um livro inteiro em pé. Tudo bem, pode não parecer grande coisa quando se trata na verdade de uma graphic-novel com poucos diálogos, mas o fato é que, mesmo no desconforto de estar escorado em uma coluna e recebendo um jato gélido do ar-condicionado na cara, li de ponta a ponta o mais novo álbum da editora Ática.

Estamos falando de Fantasmópolis (Ghostopolis, 2011), escrito e desenhado por um artista bem conceituado e conhecido nos Estados Unidos: Doug TenNapel. Os nintendistas dos anos 1990 certamente já estão familiarizados com uma das suas principais criações, que virou ícone nerd no mundo dos gamers: a minhoca esquisita Earthworm Jim, protagonista de um dos jogos mais singulares e difíceis da Nintendo. Lembram?

Minha proeza de hoje se deu totalmente por acaso, assim como todas as outras poucas proezas que já consegui realizar na vida. Eu estava passeando pela minha livraria predileta com meu irmão, quando, de repente, ele me convidou para dar uma olhada na seção dos quadrinhos. Fomos. Cheguei lá, puxei um volume a esmo da estante e, sem sequer olhar o título, comecei a lê-lo: não deu outra. Quando eu me dei conta de que já estava na metade do álbum, decidi que não tinha outra opção que não fosse terminá-lo ali mesmo.



O enredo de Fantasmópolis é do tipo comum que, se for bem trabalhado, pode arvorar uma história em grande parte original e dotada de vida própria. Sei que parece algo contraditório, mas é o mesmo tipo de história encontrada em, por exemplo, A história sem fim: um argumento comum que recebeu um trato extremamente cuidadoso e que, por isso, agora goza de originalidade. (Só para constar, esse é o único paralelo que traço entre a obra de Michael Ende e a graphic-novel de TenNapel. De resto, vale frisar, as duas coisas nada têm em comum.)

Fantasmópolis possui um traço artístico bem esparso e livre de detalhes, assim como boa parte das graphic-novels modernas. Embora seja simples, seu desenho não é nem um pouco ruim, e é a própria simplicidade que transmite para o leitor o caráter leve, ágil e bem-humorado da obra. Foi essa agilidade de ritmo que me permitiu ler o álbum em pouco mais de uma hora, e nesse aspecto há um lado bom e outro ruim. O lado bom é que a economia de palavras e quadros dá à obra em questão uma espécie de "personalidade" própria, enxuta e direta. O lado ruim dessa frugalidade, por sua vez, pode ser percebido em passagens que mereciam (e não tiveram) um melhor cuidado na narrativa, um compasso mais lento e detalhado.

Ser objetivo e dar poucas explicações é um traço característico de TenNapel – isso a maioria das pessoas que acompanham o seu trabalho sabe. Às vezes (e isso vale para Fantasmópolis), podemos até preencher lacunas com a nossa imaginação particular, explicando coisas e detalhando cenas que o autor se absteve de descrever. No entanto, apesar desse exercício agradável de literatura, diversas vezes percebi no álbum uma agilidade e uma rapidez que não combinavam com o "clima" da cena. Essas passagens (penso eu, na minha incipiente experiência com graphic-novels) demandam um trabalho atento e cuidadoso que o seu autor não lhes conferiu.



Mesmo com essa leve escorregada, Doug TenNapel consegue criar uma história divertida que prende a atenção, apesar dos muitos clichês presentes ao longo de boa parte do quadrinho. Imagino que a presença desses clichês é até proposital, porque o leitor nota um quê de brincadeira nessas abordagens, como se o autor procurasse entreter os leitores com mais esse elemento, também. De qualquer modo, emerge das páginas do álbum uma espécie de garra que prende o leitor, e, assim, ele vira folha depois de folha sem se dar conta do tempo. Foi o que aconteceu comigo.

Sem dúvida, uma das características mais marcantes e curiosas de Fantasmópolis é a presença maciça do fator surreal, que enche as páginas do início até o fim. Certamente é esse fator que movimenta toda a obra e faz com que ela se torne tão convidativa ao leitor, além de ser o marco de originalidade que livra o quadrinho de cair na mesmice das histórias de fantasia. Todos os personagens, embora pouco aprofundados subjetivamente, são interessantes e possuem uma atração particular, cada qual a seu modo ligeiro.

Em suma, se você procura uma graphic-novel leve e desinteressada, Fantasmópolis pode ser uma boa sugestão. É possível gastar menos de uma hora e meia lendo esse álbum, que, além de bem-humorado, é divertido e imaginativo, narrado em linguagem ágil e econômica – bem aos moldes dos quadrinhos modernos.

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sexta-feira, 23 de março de 2012

O Lupa Cultural indica: Judy Garland – O Fim do Arco-Íris

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Antes mesmo de chegar à Broadway, o texto, do inglês Peter Quilter, adaptado por Charles Möeller e Claudio Botelho, ganhou os palcos do Brasil. Na última sexta-feira, 16, o Lupa Cultural assistiu ao musical Judy Garland – O Fim do Arco-Íris e se surpreendeu. Longe de ser uma biografia cansativa, o espetáculo mostra flagras da última turnê da eterna Dorothy de “O mágico de Oz”, que é até hoje uma das personagens mais lembradas do teatro e do cinema norte-americano. Ambientada entre um quarto de hotel e o show, o espetáculo expõe em todos os momentos os medos, traumas e principalmente os vícios, que levaram Judy a uma morte precoce.

Um dos pontos altos da produção fica por conta de Francisco Cuoco, no momento em que revela os músicos para a plateia. A forma como a banda surge na cena deixou todos em silêncio. Ao termino de uma cena, Cuoco, de costas para o público, começa a contagem que faz a rotunda (plano de fundo) se erguer, as luzes que contornam o palco se acedem e a banda é revelada, assim começa o show de Judy. Entre as músicas cantadas estão: “For once in my life”, “That’s entertainment”, “How Insensitive” e a clássica “Over the rainbow”

A voz de Claudia Netto impressionou, além de sua belíssima atuação, pois realmente víamos Judy no palco em todos os momentos. Nos instantes de tristeza da personagem o silêncio era profundo no teatro, pois todos de alguma forma queriam poder ajudá-la.

Francisco Cuoco é dono de uma presença imponente no palco e uma atuação inquestionável, conseguiu arrancar belas risadas da plateia com seu pianista afeminado. 

O palco contou também com a presença de Igor Rickli, um ator não tão conhecido do público, mas que cada vez mais prova não ser apenas mais um rostinho bonito. 

Aplaudidos de pé, merecidamente, por um teatro lotado e encantado. Fica a dica para essa sexta feira ou para o final de semana, últimos dias em que estarão em cartaz no Rio de Janeiro, no Teatro Fashion Mall. Mais informações: http://bit.ly/oPsC2K

quinta-feira, 22 de março de 2012

O "erotismo noveau" da arte Gustav Klimt

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Algumas obras de arte você conhece e gosta, seja por encanto inicial ou por afinidade. Mas, por algum motivo, não procura saber nada sobre o autor do trabalho artístico em questão, nem mesmo o nome. Foi o que aconteceu comigo e com Gustav Klimt. Ainda não me recordo ao certo o lugar em que vi "O Beijo" (Der Kuss, 1907/1908) , a pintura mais famosa do pintor, mas sei que ainda me provoca algum tipo de sensação sem nome, mas, se você precisa de alguma palavra para classificar obras, sugiro esta: suave. 

O Beijo (Der Kuss, 1907/1908)
Poderia ter usado deslumbrante, magnífica, mágica ou qualquer outro adjetivo usado para mostrar algum tipo de fascínio, mas escolhi "suave", expressão que ousaria empregar em todas as pinturas e desenhos do artista austro-húngaro. É fácil explicar minha escolha a partir do trabalho do autor.  A pintura de Klimt constitui a combinação entre o concreto e figurado, com personagens reais em um campo ilusório (ou nem tanto), em que o erotismo é o mais perto que se pode chegar do paraíso. A suavidade do vienense tem a ver com  a pele e com as sensações decorrentes do prazer sexual, tema latente em seus desenhos.

Em "O beijo", Klimt pensou em sua própria amante, Emilie, como musa inspiradora. Na obra, Emilie aparece submissa, não ao homem, mas ao desejo. Essa também pode ser uma das características mais comuns nos trabalhos de Klimt, a exaltação da mulher. Raramente o artista pintava homens, e, quando pintava, o rosto dele não importava, mas o dela, a demonstração do êxtase feminino. "O Beijo" também se consolidou como a obra máxima da fase dourada do artista, em que o realismo e a abstração se esbarram no dourado e prateado caleidoscópicos. A obra ainda se tornou o simbolo da "Secessão Vienense", movimento liderado por Gustav para romper com o tradicional. 

Goldfish (1902)
Como qualquer um que se atreva a desafiar o senso comum, Klimt foi muito criticado, inclusive por seus professores. Mas, o berço de toda inovação e abrigo para novos artistas, Paris o recebeu de braços abertos.   Sua pintura, "A filosofia" foi repudiada por 87 professores de sua universidade, mas, no mesmo ano, a obra recebeu uma medalha de ouro na Exposição Universal da cidade luz. Um dos pontos interessantes da obra de Klimt, que também tem a ver com a tal suavidade já comentada, é que suas pinturas e desenhos parecem retratos de uma vida debaixo d'água, o que também enaltece a natureza do prazer sexual feminino. Já diria Arnaldo Antunes: "Debaixo dágua tudo era mais bonito, mais azul, mais colorido". O quadro Goldfish, (dir.) exemplifica essa minha impressão. Esse mágico dourado dá lugar para uma melancolia, em 1912, quando Klimt esconde a cor original do quadro "A Vida e a Morte, substituindo por tons mais tristes. O artista parecia, de alguma forma, prever a morte de sua mãe três anos mais tarde e também o seu próprio óbito, em 1918.

Veja abaixo algumas das principais obras de Gustav Klimt





Você pode conferir todas as obras de Klimt em: http://www.iklimt.com/

quarta-feira, 21 de março de 2012

Norah Jones lança mais uma do novo CD

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A cantora Norah Jones divulgou na manhã de hoje a inédita Travelin’On, mais uma de seu novo álbum, Little Broken Hearts. No final de fevereiro a cantora havia divulgado as faixas do novo disco e lançou a décima da lista, Happy Pills.

O CD está sendo produzido por Danger Mouse e provavelmente sairá pela gravadora Blue Note no início de maio. Na divulgação das faixas, Norah Jones aproveitou para anunciar sua turnê mundial em suporte a Little Broken Hearts. A cantora passará pelos EUA e Europa durante o período de 25 de maio até 23 de agosto. Ainda não há previsão para shows no Brasil.
Ouça:
Travelin’On
Happy Pills

sábado, 17 de março de 2012

Uma refeição no País das Maravilhas

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Descobriram o País das Maravilhas, ele fica do outro lado do mundo e não tem, digamos, uma grande extensão territorial. O restaurante japonês Diamond Dining, localizado na cidade de Tóquio, adaptou a história de Lewis Carroll para a decoração da casa.

O trabalho foi realizado pelo estúdio Fantastic Design e traz diversos ambientes do universo de Alice para o mundo real. Além disso, quem vai ao Diamond Dining, tem a oportunidade de ter um refeição uma tanto divertida com os pratos decorados.

Tomar chá com o Chapeleiro Maluco ou jantar com a Rainha de Copas ainda não será possível, mas, sem dúvida, deve ser genial ter a impressão de ter caído na toca do coelho branco.


 



quinta-feira, 15 de março de 2012

Charles Chaplin inspira editorial de moda

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O mundo da moda é um tanto marginalizado pelos ditos "cults". Que atire a primeira pedra quem nunca usou a palavra "fútil" para classificar ou julgar pessoas, revistas, programas que tenham uma visão "fashion" do mundo. Por outro lado, acredito que a moda é uma indústria forte e tão cultural como o cinema, por exemplo. Na verdade, estes dois têm uma linha de divisão bem tênue, que por vezes um é gerador do outro.
A fotógrafa e produtora editorial, Rossana Fraga, soube lidar com o binômio cinema-moda e planejou uma série de editoriais que tem como inspiração a sétima arte. O primeiro editorial de Rossana foi baseado no filme "O Garoto", de Charles Claplin, e além de fazer menção ao cinema mudo, também traz de volta o estilo "boyfriend", moda que foi consagrada nos anos 70 com Diane Keaton, em Annie Hal, do diretor Woody Allen.

No filme, a atriz mais parecia ter invadido o armário do seu namorado. As páginas do editorial de Rossana parecem se transportar direto de 1921, ano de lançamento de "O Garoto", para os anos 2000, mas a ideia não é tão original assim, já que esta não é a primeira vez que Chaplin serve de inspiração para um editorial. O ícone do cinema mudo, que já marcou presença no desfile de John Galliano, na semana de moda masculina de Paris, em 2010, também foi referência para o fotógrafo Stefan Giftthaler compor as suas imagens.

Mais imagens do editorial "O Garoto": + Moda

quarta-feira, 14 de março de 2012

A poesia serena de Alberto Caeiro

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Havia uma espécie de certeza antecipada quando tive nas mãos, pela primeira vez, o livro que reúne todos os poemas escritos pelo heterônimo mais bucólico, simpático e fleumático inventado pelo português Fernando Pessoa. Antes mesmo de terminar a leitura da primeira estrofe do poema que abre a coletânea, tive a certeza de que aquele seria um livro para sempre meu. Até hoje, depois de tantos anos, Alberto Caeiro é o autor que ocupa minha cabeceira; suas frases, seus versos, sempre de uma serenidade ímpar, são capazes de amansar qualquer estado de espírito.

Li os Poemas Completos (que foram escritos entre 1910 e 1935) com a sensação nítida de que cada frase me despertava para uma nova perspectiva de vida. Uma nova filosofia nascia ali, diante de mim, e eu a assimilava como quem, isolado no deserto, encontra um poço cheio de água potável: com avidez, me deliciando com cada palavra. Mas o mais curioso é que as idéias e o discurso de Caeiro não eram de todo novidades para mim: seu desprendimento, sua simplicidade, seu minimalismo já estavam incutidos naquilo que eu imagino ser minha personalidade. Desse modo, naquela época, identifiquei meus sentimentos e pude vê-los verbalizados em poesia. Nada melhor, ainda mais quando estamos falando da qualidade de um Fernando Pessoa.


Para quem ainda não sabe, o poeta Fernando Pessoa, num súbito lampejo de compreensão, entendeu que sua alma era dotada de pontos de vista e estilos tão distintos que não seria possível assinar todos os seus escritos sob o mesmo nome. Além de "Fernando Pessoa" (que, desnecessário dizer, era ele mesmo), o autor criou uma dezena de heterônimos que correspondiam a personagens diferentes, ou, antes, a autores diferentes. De todos esses autores distintos, sobreviveram ao curso do tempo apenas três, que são a tríade mais famosa e mais rapidamente associada ao nome do poeta português: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Há também o existencialista Bernardo Soares, mas este, infelizmente, deve seu reconhecimento pelo público a apenas uma única obra em prosa: O livro do desassossego.

Vale lembrar que heterônimo não é o mesmo que pseudônimo. No segundo caso, o autor apenas esconde seu nome verdadeiro e publica outro no lugar, como um nome substituto artístico pelo qual ele pretende ser reconhecido. No heterônimo, o artista cria autores diferentes dele mesmo, com biografia e obra distintas da sua própria. Fernando Pessoa mesmo costumava dizer que Alberto Caeiro era seu "mestre", e que toda a sua obra partia de um ou outro pressuposto do famoso guardador de rebanhos. Às vezes eu fico pensando que psiquiatras e outros estudiosos científicos não vêem nisso senão um belo traço de esquizofrenia.


Não precisei chegar sequer na metade dos Poemas completos para perceber que eu já adorava o livro e que o tinha como a mais bela coletânea de estrofes em língua portuguesa lida até então. Quanta poesia inteligente, quantos versos claros e serenos! Se existe uma coisa que é comum a todos os heterônimos de Fernando Pessoa (e isso só pode ser explicado como um traço intrínseco do autor), é que sua poesia não é do tipo que turva as águas para sugerir profundidade. Não consigo encontrar outra característica mais louvável em um poeta: clareza e sensibilidade. Caeiro escreve com uma calma tão evidente, com uma serenidade tão absoluta, que nada poderia advir daí senão os versos mais interessantes e cristalinos possíveis.

Poemas completos é recheado de frases breves extremamente carregadas de sentido. É o caso de, por exemplo, "Nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir" ou "Deixemos o universo exterior e os outros homens onde a natureza os pôs". Simples, direto e de uma beleza inquestionável, que abre mão dos mais rocambolescos recursos para se fazer entender. Antes de tudo, apela para a humanidade do leitor, e só assim ela almeja fazer sentido. É uma poesia humanista, por que não?


Nunca tive prazer ou necessidade de riscar um livro, sublinhando passagens importantes ou fazendo anotações nas margens das páginas; no entanto, aqui eu tive que deixar de lado essa tradição. Risquei estrofes, sublinhei versos, pus asteriscos em poemas inteiros e circulei vários trechos que julguei como portadores de uma essência que não podia ser perdida, e sim lembrada para sempre. Fiz isso sem o menor constrangimento. O entusiasmo ao marcar essas passagens foi tão grande que, mesmo hoje, sou capaz de citar estrofes inteiras de cor. A minha preferida é:

"Todo o mal do mundo vem de nos importarmos uns com os outros,

Quer para fazer o bem, quer para fazer o mal.

A nossa alma e o céu e a terra bastam-nos.

Querer mais é perder isso, e ser infeliz." (p. 71) 

Poemas completos de Alberto Caeiro é um livro que significa muito para mim. Na época em que o li, lembro que ele serviu como uma espécie de muleta, na qual eu me apoiava e até mesmo me baseava, fazendo daqueles versos as palavras que eu queria dizer cotidianamente, para todos, alardeando minha nova atitude perante a vida. Esses livros – que realmente nos tocam e nos mudam, estilhaçando-nos com sua verdade óbvia – são raros. Quando encontrados, devem ser preservados, como se fossem uma parte de nossa própria anatomia – coisa que, apenas por pouco, não são de fato.

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sábado, 10 de março de 2012

O mundo em miniatura por Lori Nix

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Alguns processos criativos são difíceis de explicação ou simplesmente não tem alguma plausível. O fotógrafo Lori Nix é sempre questionado quanto ao objetivo do seu trabalho. A resposta de Nix não parece agradar a todos, já que ele "constrói o que quer fotografar ao invés de procurar a fotografia".



Arquiteto de um universo em miniatura, Lori produz suas imagens a partir de um mundo criado por ele. Não satisfeito, Nix além de criar sua própria visão de diferentes lugares, imagina como estes mesmos locais ficariam depois de anos. Em uma visão não muito positiva, o nova-iorquino mostra um mundo em miniatura pós apocalíptico em seu projeto "The City", Lori imagina, mais que isso, reproduz em pequenas maquetes o vazio das cidades em um planeta em que a humanidade já não existe.


Apesar de pessimista, o trabalho se revela reflexivo a medida que as fotos provocam uma sensação de desconforto. Lori possui outros projetos como "Lost", "Unnatural History", "Some Other Place" e "Accidantally Kansas", mas foi em "The City" que o fotógrafo ficou frente a frente ao desafio: a criação de interiores arquitetônicos que pode durar até 7 meses.






 Para ver mais acesse: Lorinix

quinta-feira, 8 de março de 2012

7 mulheres de atitude da literatura

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Nascer mulher ainda é sinônimo de resistência. Aprender a usar salto alto, disfarçar o choro com maquiagem e ainda ser doce quando o dia está amargo pode parecer "coisa de mulherzinha", mas atitudes como essas só enaltecem a força do sexo feminino. Sem diminuir o potencial masculino, esta publicação não objetiva a comparação e a sem propósito e já conhecida "Guerra dos Sexos".

Na verdade, a ideia desta postagem é lembrar o Dia Internacional da Mulher, comemorado hoje, 8 de março de 2012. A data foi escolhida em homenagem as 130 operárias de uma fábrica de tecidos em Nova Iorque, que entraram em greve para reivindicar melhores condições de trabalho, mas, que em repressão a manifestação, foram trancadas e queimadas no local.
É verdade que hoje as mulheres alcançaram muitos dos direitos que em outros tempos eram de exclusividade dos homens, porém, no que se refere ao respeito, ainda há muito o que fazer.

No mundo cultural, seja nos livros, no cinema ou no teatro, a imagem feminina está muitas vezes relacionada à donzela, mas erra quem associa o heroísmo romântico à fragilidade. Pensando nisto, não compramos um bolo para celebrar o dia, mas preparamos uma lista das personagens mais fortes da literatura.


1 - Elizabeth Bennet

A protagonista da autora Jane Austen, no livro "Orgulho e Preconceito", vai de encontro à personalidade das mulheres da época, enquanto a maioria "sonha", ou melhor, almeja um casamento, mesmo que por barganha. Elizabeth é uma heroínas as avessas, mas nem tanto. Lizzy, apelido da personagem na obra, não tem uma beleza cativante (não pensemos aqui no filme e nem em Keira Knightley, que interpretou a segunda filha dos bennet para o cinema). Sem se encaixar no estereótipo da mulher ideal, Elizabeth questiona a atitude das mulheres do seu tempo, uma vez que estas precisam cozinhar, tocar piano com destreza e ainda bordar para serem consideradas damas.

2 - Lisbeth Salander

É impossível ignorar Lisbeth dessa lista. A heroína do sueco Stieg Larsson, responsável pela Trilogia Millenium, que está dando o que falar no cinema. A obra de Larsson já teve duas adaptações, a sueca, com Noomi Rapace na pele da heroína "pós punk" e Rooney Mara, que parece ter lido o livro de Larsson muitas vezes para dar essência a fria e vingativa Lisbeth.


3 - Lolita


"Pela manhã ela era Lô, não mais que Lô, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita." O trecho da "polêmica" obra do russo Vladimir Nabokov explica, em parte, as razões por Lolita estar listada aqui. 12 anos, sensual — com a face mais pura que a sensualidade pode ter e inocente de uma forma perversa, Lolita representa aquela menina-mulher que pode levar homens como o seu padrasto, Humbert, à angustiante insadidade de uma paixão sem freios.

4- Capitu

Porque quando se fala de literatura brasileira e mulher, eu não lembro de Aurélia, muito menos Iracema, mas estala em minha cabeça o nome da menina de olhos de "cigana obliqua e dissimulada", Maria Capitolina Santiago, Capitu, personagem do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis. Traindo ou não Bentinho, Capitu era uma mulher forte, ou é se pensarmos que um livro é sempre presente. À frente do seu tempo e com desejos próprios, a heroína de Assis nasceu com a persuasão nos olhos. A nossa representante cheia de atitude da literatura nacional é a fusão das várias faces que uma mulher pode ter (e acredite, são muitas).


5 - Úrsula Iguaran

Como fã de carteirinha de Gabriel Garcia Marquez, não poderia deixar fora desta seleção alguma das personagens femininas de suas obras. A roleta russa apontou para Úrsula Iguaran, a matriarca da família Buendía, em Cem Anos de Solidão, livro pelo qual o escritor colombiano ganhou o prênio Nobel de literatura. A escolha de Úrsula serve para mostrar que não é preciso ser a frente do seu tempo, como a senhorita Bennet, ou boa de briga como Lisbeth Salander. Úrsula Iguaran é forte como muitas mulheres em ações cotidianas: cuidando do lar, vigiando as crianças, mantendo a paciência com as lourucas de seu marido, Aureliano Buendia, e dando um jeito aqui e ali de ajudar na renda da família.

6- Anna Karenina


Casada, uma mãe que filho nenhum pode colocar defeito, Anna é mulher que vive no mais alto glamour da sociedade e não teria do que reclamar de sua vida, não fosse seu casamento por conveniência, assim como muitos outros da época. De certo a heroína de Tolstoi não contava que se apaixonaria por outra pessoa e abriria mão de tudo para viver ao lado do seu amante. Mais do que uma história de adultério, o livro é uma crítica à aristocracia russa czarista e uma demonstração da força que uma mulher pode ter e o que ela pode deixar para trás quando o amor enaltece a razão.





7 - Elizabeth Gilbert


Elizabeth, de Comer, Rezar e Amar, completou 30 anos e percebeu que tinha tudo e ao mesmo tempo não tinha coisa alguma na vida. A senhoria Gilbert é o retrato de uma mulher moderna, ambiciosa e com uma carreira de sucesso, mas, por outro lado sem a desejada e utópica felicidade. Por conta disto, decide por fim em seu casamento e se envolve com um ator bem mais jovem, mas vê que também não dará certo e resolve fazer as coisas que sempre quis. E no meio disto faz amigos, aprende italiano, aumenta uns quilinhos (sem culpa), aprende a meditar, ajuda novos conhecidos e faz um novo e tranquilo amor.

quarta-feira, 7 de março de 2012

A garota das laranjas, de Jostein Gaarder

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Dentre todos os livros que ganhei de presente na vida (pelas mais diversas ocasiões), encontra-se na minha estante A garota das laranjas, dado pela minha namorada no começo do nosso relacionamento. Por conta própria, eu  digo que seria bem difícil ir atrás desse livro, mas, depois que o li, tenho de agradecer pela oportunidade de ele ter vindo parar nas minhas mãos.

A Garota das Laranjas, (Appelsinpiken, 2005) foi escrito por um dos mais populares autores contemporâneos: estamos falando de Jostein Gaarder, filósofo norueguês conhecidíssimo por seu célebre O Mundo de Sofia, que lhe deu projeção internacional como romancista no começo dos anos 1990.

Extremamente cativante. Essa talvez seja a expressão mais adequada para que eu possa me referir a este livro tão simples e, por isso mesmo, tão gostoso. Gaarder acertou a mão quando escreveu A Garota das Laranjas, conseguindo, logo nas primeiras páginas, captar a atenção do leitor da maneira mais agradável possível – inclusive ao falar de assuntos relativamente delicados, como morte e o vazio que um marido deixa atrás de si, mesmo quando ele é substituído por outro homem.

A confrontação com a morte, aliás, é um dos temas mais presentes no livro. Isso para não dizer que ele está manifesto praticamente desde a primeira até a última página; afinal de contas, quem escreve a maior parte da história é um pai que está à beira da morte e sabe disso. Por essa razão, ao dirigir-se ao filho maduro com quem nunca pôde conversar, o pai procura incutir-lhe divagações filosóficas que dizem respeito à condição do Homem no mundo.




Mas o objetivo geral da carta que o pai escreve a seu filho Georg não é, necessariamente, apenas de cunho filosófico. O que Jan Olav de fato deseja é contar ao seu herdeiro a sua relação de adolescente com a "garota das laranjas", lá pela ida década de 1970. E eu diria que é nesse relato da história de amor entre Olav e a garota das laranjas que o livro mais cativa. O que me agradou bastante foi ler, sobretudo, uma história de amor sem exageros, perfeitamente convincente, mas que nem por isso deixa de ser bonita, reflexiva, singela e calorosa.

Muitas pessoas julgam erroneamente A Garota das Laranjas pela capa, e ela de fato faz crer que o livro seja infantil, ou, no mínimo, muito infanto-juvenil. Tudo bem, a história diverte leitores de todas as idades, mas, como eu disse em um tópico de discussão do Orkut, a ingenuidade e a inocência do livro são apenas aparentes. Ele é recheado de sugestões que ficam soltas no ar, e que de certo modo são interpretadas de uma maneira peculiar por aqueles leitores não tão novos.

Me sinto inclinado a dizer que este é um romance muito maduro, muito "adulto", de certa forma. Existem certas coisas nas entrelinhas (certas reflexões, certos detalhes) que escapam a um olhar menos preparado e – vamos dizer assim – menos treinado pelo tempo. De qualquer forma, essa temática de entrelinhas foi uma das coisas que mais me fizeram gostar do livro; garante, acima de tudo, que Gaarder se dirige de diferentes formas a leitores de diferentes idades.

Com o estilo característico de Jostein Gaarder, leve e fluido, a história traz um charme irresistível. Estamos diante de um "conto de fadas moderno", plausível, sem apelos fantasiosos.

Por fim, resta dizer que A Garota das Laranjas superou fácil O Mundo de Sofia, que era o único livro de Gaarder que eu havia lido até então. Não que o livro mais famoso do autor seja ruim ou vazio, longe disso. Apenas não me cativou tanto quanto o que li nesse feriado. O Mundo de Sofia me pareceu algo muito didático, uma obra que está mais para manual do que para romance propriamente dito. Não é à toa que o livro será usado como "apostila de estudo" em algumas escolas do Brasil, com o advento da disciplina Filosofia na grade curricular.

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As cores vibrantes de Françoise Nielly

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A primeira coisa que se nota nas obras de Françoise Nielly é o impacto que as cores vivas e fortes trazem. Seus cortes incisivos de espátulas, combinados com pintura a óleo, exprimem sensualidade e certo mistério das personagens que retrata. Quanto ao uso de cores fluorescentes em suas obras, a artista explica em seu site:

Pensar na minha infância não é uma das minhas coisas favoritas. Com uma irmã aleijada superprotegida, às vezes eu me sentia solitária. Não abandonada! É claro que eu também tive ótimos momentos, como o verão em Cavalaire, onde construíamos cabanas e cabines e caçando borboletas. Eu vivi imagens de cores, de brilhos. Amarelo, nascer do sol, azul, calor, cigarras, cheiro de pinho, luz... Todas aquelas imagens clássicas do sul da França é uma experiência muito viva em mim. Talvez tenha sido isso o que me levou a usar cores fluorescentes nas minhas pinturas.


A artista Françoise Nielly nasceu em Marsella, no sul da França e sofreu forte influência de seu pai, que era arquiteto. Françoise trabalhou para grandes agências durante 15 anos como ilustradora e fotógrafa publicitária. Sua primeira exposição foi em 1997 na Galeria de St Maxime. Seus trabalhos foram espalhados por galerias da Europa, Canadá e EUA.







As imagens foram retiradas do site de Françoise Nielly.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Marisa Monte, Anderson Silva e a dança de salão

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Dona de uma voz encantadora, Marisa Monte, uma das maiores artistas da música brasileira na atualidade, conseguiu mostrar em 2011 o outro lado de um lutador. Anderson Silva, mais conhecido como Spider Silva na Ultimate Fighting Championship (UFC), se mostra um homem sensível e delicado no clipe “Ainda Bem”.

Para os que acham que “dançar não é coisa de homem”, o temido lutador prova o contrário. Embalado pela canção, ele dançou um bolero com a cantora, mostrando uma suavidade imensa a cada passo, coisa que muitos por preconceito não conseguem. Provando que mesmo sendo um grande lutador é capaz de ter delicadeza para ouvir e sentir a música.

A dança tem uma mágica, um segredo, transforma tudo e todos em belo, pois faz aflorar a gentileza e a sensibilidade. Superamos a barreira do toque através da dança de par, um completa o outro e é preciso estar em total sintonia, se não a dança não tem graça. Para dançar precisa-se ter prazer e desligar-se dos outros, curtir o momento, assim o resultado fica como o do clipe: uma dança envolvente e cativante.

O clipe ganhou as redes sociais ano passado (2011), mas toda vez que vejo me encanto. Uma produção simples, toda em preto e branco, destaca a dança e a sensibilidade. Apreciem também: 



 

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