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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Marc Chagall: o Pintor com a Tinta Cor de Sonho

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Lovers in Moonlight
Sonho. É essa a primeira palavra que vem à cabeça quando penso em Marc Chagall. Observar uma tela do pintor é quase ser espião de suas utopias. Penso que é por isso que gosto: por não retratar um vaso de flor, paisagem estática ou natureza morta, mas a ilusão. Tenho a mesma sensação com Gustav Klimt, mas, no caso desse, é uma espécie de sonho debaixo d'água. Acredito que meu primeiro contato com o artista foi em "Um Lugar Chamado Nothing Hill" (1998), de Roger Michell. Nem sequer gostei do filme, talvez por isso na época não tinha dado atenção à citação feita a Chagall na película. Em uma das sequências do filme, Anna Scott (Julia Roberts) percebe um quadro do pintor na parede de seu par romântico na produção, William Thacker (Hugh Grant). 

Anna: Eu não acredito que você tem essa gravura na sua parede! 
William: Você gosta de Chagall? 
Anna: Gosto. É assim que o verdadeiro amor deve ser. Flutuando em um céu azul escuro. 
William: Com um bode tocando violino. 
Anna: Sim - a felicidade não seria felicidade sem um bode tocando violino. 

La Mariée
O quadro em questão se tratava de La Mariée, mas dei de ombros para o diálogo. Chagall só passou a ter importância anos depois, quando conheci meu namorado e ele falou sobre o tal bode tocando violino. Talvez seja essa a essência e o que Anna quis dizer com " como o verdadeiro amor deve ser ". Não se pode gostar de Chagall sem estar apaixonado, porque Chagall era um apaixonado, não só no que diz respeito a Bella Chagall, sua esposa, mas no sentido romântico e saudosista da paixão. O bode, outra vez, faz referência à aldeia onde viveu em São Petesburgo, na Rússia. Lugar onde conheceu e se casou com Bella. O amor entre os dois, na minha opinião, é o que torna Chagall único. É o que faz pensar estar dentro de uma obra de Shakespeare como "Sonhos de uma Noite de Verão", uma espécie de poesia escrita em cores de aquarela, que não comporta esse universo, mas um espaço entre o real e o imaginário: a fantasia.
Imagino que quando o autor falou que “Haverá sempre crianças que amarão a pureza, apesar do inferno criado pelos homens”, era essa a mensagem que gostaria de passar. Uma visão quixotesca de que apesar das mazelas do mundo ainda é permitido sonhar de vez em quando. Nascido em uma família judia, Chagall trouxe para as suas obras os momentos cruciais na vida de um devoto dessa religião. Aliás, indo mais além, momentos chave na vida de qualquer pessoa. Pintou o nascimento, o casamento e a morte. Em todas essas etapas o cenário que dava vida ao sonho era Vitebsk, o vilarejo onde viveu o bielorrusso.

Apesar do sonho, da mágica e dos personagens flutuantes, o trabalho mais desafiador de Chagall foi a séria "A Bíblia". De 1931 a  1939 e de 1952 a 1956, o artista trabalhou em uma série de 105 gravuras que retratavam parte do "livro sagrado". O interessante da série é que, por Chagall ficar no limiar do sobrenatural, os anjos e a presença de Deus parece, digamos, mais próxima da realidade. Já que se está falando de sonho, o impossível, a ideia, conceito e a verdade podem coexistir em tranquilidade.
Adam and Eve Expelled from Paradise

Desafiador, sim, mas não o mais sincero na minha opinião. Dou o meu voto de quadro mais belo de Chagall para "Autour d'Elle”, que ele pintou como uma belíssima despedida a Bella, que faleceu em 1944. A noiva de suas pinturas agora flutuava distante. Céu, talvez. Mas gosto de pensar que Chagall eternizou Bella em um lindo devaneio de cor azul.


Autour d'Elle
Mais Pinturas de Chagall:

Solitude


Birthday

 Calvário

The Lovers

Song of Songs IV

 

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